“É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção”.

                                                                                                                 (Rubens Alves)

Sim, Rubens Alves nunca esteve tão certo quando escreveu essa frase! 

Algo que parece tão simples é, na verdade, para muitas pessoas, complicado. A escuta é um ato de amor e a não escuta é a oportunidade perdida de demonstrar amor e se sentir amado e acolhido por outros. 

É comum ouvir desculpas como: “é porque sou muito ocupado”, “essa vida é corrida demais”, “trabalho muito”, “chego muito tarde!”, entre tantas outras desculpas para o simples ato de escutar. Quantas vezes você gostaria de ter encontrado alguém somente para ouvir suas angústias, suas dores, suas incertezas, seus medos, suas inseguranças? Ou talvez quantas pessoas já o tenham procurado para tentar falar e ser ouvido só para aliviar a dor que estava sentindo? Muitas vezes é preciso deixar de lado por alguns minutos toda a correria do dia a dia e se doar para o outro validando todas as emoções, mesmo que isso não faça sentido algum para você. 

O ato de ouvir está ficando cada vez mais raro entre as pessoas, seja dentro de casa ou fora dela. E isso é uma perda da atitude humana muito significativa para o mundo como um todo. Todos saem perdendo com isso! Os pais perdem a proximidade com os seus filhos, os amigos perdem amizades valiosas, os professores perdem o vínculo afetivo com os seus alunos, os avós perdem as histórias de seus netos…tudo isso por deixar de ouvi-los. Tudo por conta do tempo curto, do trabalho, do cansaço ou da rotina agitada. 

Na maioria das vezes, a pessoa que está apenas procurando alguém para ouvi-la ela só quer falar, mais conhecido como “desabafar”, poucas vezes ela está à procura de um “conselheiro”, a menos que ela peça seus conselhos.  O fato é que as pessoas querem mais dar conselhos e, com isso, elas deixam de ouvi-las. E acredite, é impressionante a quantidade de coisas que nós aprenderíamos sobre os outros se simplesmente ficássemos em pleno silêncio.

A necessidade de escutar está presente em nossas vidas desde muito cedo. Para aprender a se comunicar, para saber conversar, para o processo de aprendizagem, há primeiro que aprender a saber ouvir. Há muitos problemas que a humanidade vem enfrentando pela falha na comunicação. São muitos os atritos pelos desencontros da fala e da escuta. As tentativas são muitas para trocar ideias e expor opiniões, mas como nenhum nem o outro estão realmente prestando atenção no significado profundo das palavras daquele que está a sua frente, nasce a incompreensão, que está ganhando cada vez mais destaque nas relações humanas. Ter consciência de que necessitamos de compreensão, de que necessitamos de compreender o outro e a nós mesmos pode ser algo libertador e uma grande oportunidade de ressignificar o ato de escuta!

A filósofa Delia Steinberg Guzmán escritora do livro “A arte de Triunfar na vida” disse: “…saber ouvir é saber raciocinar no ritmo do outro-entrar no movimento da sua mente e do seu coração. Isto significa o domínio de si mesmo, respeitando a capacidade de convivência entre os seres humanos…”

E essa capacidade é moldada à medida que vamos nos dedicando a esse ato, respeitando as diferenças dos outros na forma de pensar e agir, dar a oportunidade de se aproximar de uma maneira mais profunda daquilo que o outro está pensando ou sentindo ou da maneira que ele está se colocando. Essa capacidade também está em nossas ações. A nossa escuta precisa ser atenta e participativa com olhar, gestos corporais além de usar grande parte dos nossos canais sensoriais. Num diálogo, usar os canais sensoriais significa que estaremos totalmente presentes na escuta, prestando atenção em todo o contexto, inclusive nas expressões do rosto da pessoa, no tom de voz e, muitas vezes, colhendo a percepção do que realmente está por detrás de uma simples pergunta. Isso faz com que o outro perceba que ele pode ter calma ao falar porque a pessoa que está ouvindo está disposta a escutar, além de fazer com que o outro se sinta muito mais confortável e acolhido! Dessa maneira, é possível desenvolver vínculos e laços afetivos com ou outro ou apenas fortalecê-los. Vale lembrar aqui que você não precisa concordar com que o outro está dizendo, você apenas precisa compreender de maneira profunda sabendo separar as diferenças de ideias, de pensamentos e sentimentos.

Desenvolver a capacidade de escutar é fundamental para nos tornarmos pessoas melhores e oferecer o que há de melhor em nós para os outros também. Desacelere por alguns instantes a sua vida para tentar compreender o quanto essa habilidade pode fazer bem para você e até transformar, positivamente, a vida de outra pessoa que deseja apenas ser ouvida e compreendida!

Reflita nisso: “Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe.” (Rubens Alves).

Vale a pena ressignificar a escuta!